Foto: Guilherme Dardanhan/ALMG

Quase 90% dos cancelamentos de registros feitos pelo CREA-MG este ano são de engenheiros e geólogos  envolvidos na tragédia de Brumadinho

8 de outubro de 2025

Sanções afetam 15 profissionais envolvidos no rompimento da barragem da Vale e trazem esperança na Justiça e órgãos fiscalizadores mais éticos

O Conselho Federal de Engenharia (Confea) já cancelou, em 2025, 17 registros de engenheiros mineiros. Quinze deles atuavam na Mina Córrego do Feijão, que rompeu em Brumadinho, em 2019. Do total, 13 nomes já foram publicados no site do Conselho Regional de Engenharia (CREA-MG). Chama a atenção a concentração de penalidades em um único ano, o que reforça a gravidade das infrações que podem levar à medida mais extrema dentro da profissão. O cancelamento ocorre em casos de descumprimento do Código de Ética Profissional e busca proteger a sociedade de riscos técnicos e ambientais. Um deles têm recurso em andamento no Plenário do Confea e outro pediu revisão sobre a perda da licença.

Entre os registros cancelados no âmbito ético-disciplinar estão os engenheiros envolvidos no rompimento da barragem da Vale: Cesar Augusto Paulino Grandchamp, Alexandre de Paula Campanha, Arsênio Negro Junior, Makoto Namba, Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo, Renzo Albieri Guimarães Carvalho, Washington Pirete da Silva, Andréa Leal Loureiro Dornas, Joaquim Pedro Toledo, Lúcio Flavo Gallon Cavalli, Cristina Heloiza da Silva Malheiros Marina, Rodrigo Artur Gomes de Melo e Marlisio Oliveira Cecílio Júnior.

O Código de Ética estabelece que engenheiros devem atuar com dignidade, competência e responsabilidade social. No setor da mineração, esse compromisso é ainda mais sensível, pois envolve a segurança de barragens e estruturas de alto risco. O não cumprimento de normas técnicas, a omissão diante de riscos ou a prática de atos fraudulentos podem resultar em processos disciplinares e culminar no cancelamento do registro.

As tragédias-crime de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019, continuam a ser referência das consequências de falhas técnicas e éticas. Mais de 290 pessoas perderam a vida e comunidades inteiras foram destruídas, em episódios que marcaram a história da engenharia no Brasil. 

Para os familiares das vítimas reunidos na AVABRUM, a lembrança desses crimes é um alerta permanente sobre a importância da fiscalização e da punição exemplar de profissionais que descumprem suas responsabilidades. Nesse sentido, o cancelamento dos registros de engenheiros ligados à tragédia-crime de Brumadinho configura também uma forma de justiça para as famílias, pois os engenheiros que falharam tecnicamente também perdem o direito de atuar livremente.

Em posicionamento oficial, divulgado nas redes sociais do Conselho Regional de Engenharia de Minas Gerais (Crea-MG), o presidente da entidade, Marcos Gervásio, afirmou que a tragédia-crime de Brumadinho foi “uma das maiores da nossa história” e que a entidade cumpriu seu papel. 

Gervásio explicou que a entidade decidiu pelo cancelamento do registro dos profissionais envolvidos no rompimento da barragem ocorrido em janeiro de 2019. “Essa decisão não repara as perdas, mas reforça a responsabilidade técnica que a ética e a segurança das pessoas estão acima de qualquer interesse”, afirmou.

Consequências

O cancelamento de registro retira do engenheiro o direito de exercer a profissão legalmente, o impede de assinar Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) e de firmar contratos que exijam registro ativo. A sanção, além de limitar carreiras, tem caráter pedagógico ao sinalizar que práticas contrárias à ética não encontram espaço na engenharia.

“Quando há um divórcio entre a técnica e a ética, as consequências são devastadoras. O engenheiro precisa compreender que nunca pode permitir que o lucro esteja acima da vida humana e da proteção ambiental”, afirma Josiane Melo, engenheira civil, irmã da joia Eliane Melo (39) e tesoureira da AVABRUM.

Para a Associação, a concentração de cancelamentos em 2025 reforça a urgência de mudanças estruturais. A entidade defende que a ética profissional seja tratada como fundamento inegociável e que conselhos, empresas e governos atuem de forma integrada para impedir novos crimes. “A vida deve estar sempre acima do lucro”, afirma Nayara Porto, presidente da AVABRUM. destacando que a memória de Brumadinho precisa servir de guia para decisões futuras.

Sobre o Projeto Legado de Brumadinho:

A AVABRUM – Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão tem o Projeto Legado de Brumadinho como suporte de ações institucionais e na construção da memória (para que nunca mais aconteça). O Legado de Brumadinho integra os projetos do Comitê Gestor DMC (Dano Moral Coletivo) com recursos pagos a título de indenização social ao MPT pelo rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho que ceifou a vida de 272 pessoas.

Contatos para a imprensa:

Luciana Logrado – 37.99151-9794
Raul Mariano – 31.98537-1298

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