Foto por Janaína Rocha/Projeto Legado de Brumadinho

AVABRUM reforça luta por justiça e denuncia mineração predatória na Pré-COP em Brumadinho

22 de setembro de 2025

Evento reuniu lideranças populares, indígenas, quilombolas e movimentos sociais

Brumadinho foi palco de um momento histórico nesta sexta-feira, 19 de setembro, ao receber a Pré-COP, evento preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que acontecerá em novembro de 2025, em Belém, no Pará. O encontro chamou a atenção para os impactos da mineração predatória e o risco de novas tragédias diante do desequilíbrio climático.

A Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho (AVABRUM) teve sua luta reconhecida em defesa da Justiça e da não repetição dos crimes socioambientais. A participação da entidade deu voz às vítimas e reforçou a urgência de medidas concretas diante da exploração mineral sem limites.

A Pré-COP reuniu lideranças populares, indígenas, quilombolas e movimentos sociais para transformar vivências e debates em propostas políticas que serão levadas à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e integrarão a contribuição de Minas Gerais ao debate internacional da COP 30. A anfitriã do encontro foi a deputada federal Célia Xakriabá, que classificou a violação dos direitos das minorias como crime climático.

Na abertura, o foco esteve na valorização da comunidade local. A programação incluiu manifestações culturais de Brumadinho, painéis sobre sustentabilidade, reflexões sobre os efeitos da mineração, do desmatamento e da contaminação das águas, além de espaços de diálogo com representantes do governo federal, ONGs, artistas e organizações da sociedade civil.

A prefeita de Mário Campos, Andresa Lopes, reforçou a defesa da vida como valor inegociável. “Nós podemos divergir em tudo, mas sobre o valor da vida não”, afirmou durante a primeira mesa do evento. Ela alertou para a substituição das barragens por diques e pilhas de minério, que já apresentam falhas. Segundo a prefeita, diante das mudanças climáticas, chuvas intensas em curtos períodos aumentam o risco de rompimentos dessas estruturas.

A voz mais comovente do encontro veio de Maria Regina Silva, vice-presidente da AVABRUM e mãe de Priscila Elen (29), vítima do rompimento da barragem em 2019. “Perdi minha filha mais velha, Priscila Elen, no rompimento. Não há como falar disso tudo sem falar da dor. Desde então nossa luta é para ressignificar as vidas das 272 vítimas. Não são só números, são nossos amores. Filhos, pais, irmãos, maridos. Precisamos da justiça porque houve um crime e a investigação apontou os culpados”, declarou.

Maria Regina destacou que a tragédia de Brumadinho poderia ter sido evitada. “A Vale fez um esforço para matar. Infelizmente, era aquela turma que estava lá naquele momento, mas poderia ter sido qualquer outra. Nenhum de nós está isento de morrer pelo rompimento de uma barragem. São quase 400 em Minas, muitas em estado crítico”.

Entre os representantes do governo federal, a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, chamou atenção para o papel central das mulheres nas respostas às crises ambientais. “Cada desastre natural no Brasil tem rosto de mulher. São elas as primeiras a salvar vidas, a buscar alimento, a garantir um teto. Justamente num ano de COP30, precisamos mostrar ao mundo o quanto as mulheres são impactadas por cada crise e como constroem as primeiras respostas. Precisamos colocar essa força no centro das soluções climáticas”, destacou a ministra. 

Ela acrescentou que o Ministério das Mulheres estruturou um conjunto de 10 ações articuladas, voltadas a inserir a perspectiva de gênero na agenda climática e a fortalecer o protagonismo feminino na busca de soluções para os desafios ambientais. “Nós temos dez ações em andamento para a conferência, mas o mais importante é o que o Brasil já está preparando e levando para o mundo: soluções concretas construídas a partir das mulheres e dos territórios”, concluiu.

Sobre o Projeto Legado de Brumadinho:

A AVABRUM – Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão tem o Projeto Legado de Brumadinho como suporte de ações institucionais e na construção da memória (para que nunca mais aconteça). O Legado de Brumadinho integra os projetos do Comitê Gestor DMC (Dano Moral Coletivo) com recursos pagos a título de indenização social ao MPT pelo rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho que ceifou a vida de 272 pessoas.

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